domingo, 21 de março de 2010

Diu. LOS COJONES DE NAVARONE















Uma pequena introducao com um capitulo de infancia:

Hoje vou ao cinema, queres vir?
Hoje nao posso! Vou 'as Antas ver a bola! mas que filme vais ver?
Vou ver os Quilhoes de Navarone.
Quilhoes? Sao os Canhoes de Navarone!
Tao vou a' bola contigo..


Cheguei ao Forte de scooter com a minha amiga espanhola, cercamos o animal, demos-lhe a volta, enfrentei-lhe a carapaca, olhei-lhe nos olhos.


CANHONES! ouvi eu, sim, eram canhoes, apontados ao mar. Lembrei-me da historia das duas amigas do cinema e da bola, lembre-me de partes do filme tambem. Ri-me, traduzi a anedota, nao sei que efeito surtiu, mas pouco importa, pelo menos ri-me eu! E acho que a nuestra hermana tambem achou piada a parecenca entre o Portugues e o Ca(ta)lao.

Somos Portugueses, sempre cabisbaixos, a pensar no passado. Agarrados a ele, sempre com a ideia que o que tal mal sempre assim esteve, e o que pode estar bem, nunca o ha de estar. Tem piada, que nunca saimos da crise, nunca superamos o de'fice, os combustiveis sobem, o desemprego tambem, mas a porra da motivacao, desce. Esse quinto imperio, fez mal e bem, nunca o soubemos superar, nunca soubemos lidar com o nosso patrimonio, valoriza-lo, entende-lo, quem sabe ate' merece-lo, mas que me deu um gozo enorme, diria ate' um enorme Orgulho Portugues, de estar a tanto km de casa, a tanta curva e contracurva, tanta onda de mar e oceano, tanta mare' , tanta tempestade, tanta discussao e morte , e ali, duro que nem penedo, duro como eu acho que ainda os ha' em Portugal, o Forte de DIU.


Eramos pouco mais de um milhao, back in the days, alcancamos o mar, lancamo-nos a ele, fomos indo, agarrados a africa como um cego se agarra a parede com a mao, rodamos, fomos ganhando medo e combatendo com ele, perdendo muitos, ganhando outros. Se nao e' acto heroico, facam pelo menos do desespero algo maior que Portugal, algo maior que futebol, fado e sardinhas, nao que nao ache que seja suficiente para um pais ser pais, para um povo ser feliz e para se esquecer a derrota de uma vez por todas, o complexo de inferioridade, mas porque realmente, visto de fora, Portugal tem muito mais do que o que vemos la' dentro. Aqui nao vi ainda uma fortaleza do tamanho de uma cidade, sustentada sobre as rochas, autentica, macica, genial, que fosse construida por holandeses, ingleses, espanhois. Vi sim, o meu orgulho Portugues, em todo o seu esplendor, naquele naco arrancado ao mar, aquele grito de revolta, aquele que vem mesmo de dentro, te deixa entalado de garganta cortada a meio, com as palavras a romperem o pescoco e a agua a querer escorrer-te na cara. Isso talvez seja ser Portugues.


Depois de ver o Forte, dei mais umas bracadas, comi uma massa, dei um salto as grutas escavadas de Diu, que nao deixaram nada a desejar, continuei na minha scooter a apreciar o tempo, o calor na cara, o vento e a brisa, o momento de inspiracao. Da para perceber como os portugueses se apaixonaram por aquela terra, pequeno territorio, dentro e fora da India, maravilhoso recato.

Zarpei da ilha num outro nightbus surreal, de 10 horas.

Passamos a fronteira de Diu, que sendo o unico local do Gujarat onde se pode beber alcoole, na volta tras sempre uma duzia de bebados borrachoes com a maior nassa de sempre a dizer qualquer coisa que ja de si nao percebo, a berrar e esbracejar na cama ao lado a' qual te encontras.

Um desses teve azar. Estava completamente quinado, no andar de cima, o revisor veio, puxou o tipo, qual saco de batatas, o morto cai no chao de pes, joelhos e cabeca no ferro da cama da frente do corredor. Se nao estava morto o suficiente, morreu ali. Juro que se fosse eu, nao sobrevivia, alias, acho que se ele nao tivesse bebado, nao sobrevivia, mas como estava alcoolizado, meio dormente, meio do outro lado ja', mais pancada menos pancada, vai dar ao mesmo. Caiu redondo no chao direito, nivelado a' biqueirada, trazido pelos pe's a reboque, e deixado na valeta da estrada. Acho que deve ter acordado com uma grande dor de cabeca, ou sem ela.


A viagem segiu tranquila, entre muitos saltos, nas camas que tinham 2cm de poeira por cima, que eu bati por curiosidade e vi uma poeirada no ar digna de padaria e fiel farinha.

Hoje cheguei de Jaisalmer, amanha faco o relato. Estou cansado de escrever, de puxar pela cabeca pelo que senti em Diu, depois de tamanho fim-de-semana, que apelou ao coracao, ao sentimento, a' revolta..



queria deixar-te um abraco forte Clemente, atrasado pelos anos que ja fizeste em Fevereiro, e pelo teu dia do qual me esqueci de te mandar um abraco por sms ou telefone, mas ok, num dia destes, quando leres isto, saber'as que nao me esqueci de ti... nunca. Saudades das bilharadas no taco meu pai, ou de berrar os golos do porto contigo ( pelo que tenho visto, coisa rara nestes dias...)

2 comentários:

  1. cada dia mais este blog me surpreende. you're living the dream!

    acho que quero meter estes teus textos em papel, com um tratamento giro e umas páginas coloridas por fotos ou desenhos a acompanhar. mas isso é coisa para mais logo...estou cheio de ideias eu.

    ResponderExcluir
  2. Senti precisamente o mesmo há duas semanas, quando estive em Muscat, no Sultanato de Oman.

    Fomos os primeiros a lá chegar, e agora ninguém sabe disso (nem os de lá quem nós somos, nem nós quem eles são). Portugal não sabe mesmo preservar a sua história.


    (e já agora deixa-me dizer-te, ando a acompanhar este blog desde que foi postado no "Forum da Cena" e deixa-me dizer-te que é um verdadeiro prazer acompanhar esta tua viagem, tens muito jeito para transmitir o que vais vivendo

    ResponderExcluir