terça-feira, 30 de março de 2010

WEDNESDAY NIGHTS!


Ontem foi segunda de trabalho, ja ia dizer que fora domingo, mas aqui os dias e noites e temporadas passam e nao dou por elas, vai rolando. Sei para me localizar no tempo/espaco, que ha cinco dias que ando de lado.

Se ha coisa maravilhosa, e' uma cidade deserta. Amo o sentimento de solidao, numa escala tao superior a' nossa de simples miniaturas em selvas que nos proprios criamos, e se a cidade indiana de dia e' o verdadeiro caos, de noite, o descanso toma conta. Parece o miudo que berra berra berra, chora chora chora, chinfrim danado, e depois, no fim, cai em combate. Eu vejo tudo a berrar a' minha volta, a buzinar, a furar pelo trafego, mas no fim do dia tudo repousa. A poeira volta a assentar, os caes controlam as ruas.
Ontem sai de um longo dia de trabalho, ou pelo menos de presenca no local de trabalho, e deparei-me com a Drive-in Rd completamente vazia. Que alegria ver o alcatrao reluzir as luzinhas de mil postes de iluminacao e anuncios de operadora de telemovel. Com o separador as' riscas pretas e brancas lembrou-me um circuito automovel, na vespera da corrida, a espera que lhe rasguem o alcatrao, que se agarrem a ele na ansia de serem os primeiros da maratona.
Andei um bom bocado, o motoristas dormiam todos no banco de tras dos Rikshaws, e ao final de dez minutos a ouvir o "things we carry", alojei-me no banco de tras, meti a cabeca de fora e fui a levar com o ar na tromba, ar ainda quente, quase a ficar frio, que me acolheu e fez sorrir. Depois do caos, nem que sempre ela nao venha, a ordem chegou, a rondar as duas da madrugada, brisa forte na cara torrada, formato refresco de limao. Vi a cidade abandonada, o deserto da urbe, o que afinal dorme por escassas horas. Lembrei-me de todas as coisas que diariamente sao depositadas nas ruas, nas vielas, nos mercados, em todo o ruido material que se apressa a espreitar mal o sol tambem da conta de si, e que realmente o indiano tem uma paciencia brutal. Abrir o tasco e comecar a espalhar tudo nos escassos metros quadrados do qual ele reclama de espaco publico, para o bom funcionamento do seu estamine'.

Depois do sightseeing, cheguei a casa, meti duas torradas no forno e puxei da manteiga, reconfortei o animal, subi ate ao telhado sem telhas, deitei-me na cama sem lencois, enrolei-me no saco, olhei para o tecto e vi o vazio daquilo que muitas vezes somos, perdidos por ai, pela urbe ou pela terrinha, alheios ao que realmente importa, e sedentos de mais qualquer coisa que nos anime o dia-a-dia mas que infelizmente nunca chega, nao chega porque tambem nunca partiu, de no's, nao dos outros.

A mim animou-me dormir cinco horas sem que fosse interrompido pelo corvo da manha, nao, costuma ser a coruja, muito menos o galo.

2 comentários:

  1. mas é que andas mesmo, e gosto de ler cada vez mais...que experiência brutal que tu relatas, morro de inveja meu caro!

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