terça-feira, 6 de abril de 2010

OUR REALM OUR HOME















Aqui comem-se tostas ao pequeno almoco, leite em pacote de plastico, sem tomate nem azeite mas com cafe' de cafeteira meta'lica oldschool, canelas style. Ha animais de todo lado, de varios pontos da Europa, gado que pasta no jardim, ratos e as baratas sao as nossas melhores amigas.

A agua funciona de vez em quando, e quando nao funciona liga-se o motor, espera-se um bocado, desliga-se outra vez e toma-se um belo banho de agua fria porque o esquentador para alem de desnecessario tambem raras vezes funciona. O ralo tambem nunca funcionou bem, entope sempre e o banho podia ser de imersao. As camas nao sao de casal, seriam mais de indiano, com setenta centimetros de largura e colchao de tres centimetros de espessura, mais a rede mosquiteira e a ventoinha do tecto que me parece mais o efeito psicologico de ver o ar a girar pelo quarto fora.

A televisao que tinhamos foi roubada, tambem so dava um canal e com chuva, coisa rara neste pais e que ainda so presenciei uma vez, tirando as poucas que vi no ecra do caixote que costumava estar na sala. So reparei que tinha ganho novo dono quando me lembrei que estava a tentar marcar golo com a bola de cricket no vazio que estava antes ocupado pela T-ve.

No jardim ha um baloico, lembra-me penafiel, mas este tem mais ferrugem ainda, e faz mais barulho, e nao tem grande piada porque tenho enjoado das ultimas vezes que me sento la' a olhar para a rua.

La' em cima no terraco, fui o primeiro a aventurar-me e agora ja somos oito a partilhar aquele espaco, concentrado na area de menor exposicao matinal, e a' noite cumprimenta-se o vizinho da frente que tambem dorme no telhado. O ze' do telhado ficaria orgulhoso de mim. A cama 'e o meu saco, que era verde e cinzento e agora nao digo que cor tem, nem sequer penso muito nela, nem sequer tento olhar para ela, e se calhar ja' nao me importo. A sujidade faz parte do dia-a-dia e tentar controla-la e' como dizer a um miudo que nao pode partir o seu vaso de casa favorito oferecido pela madrinha do irmao mais novo, e que quando estala tem um soar que vale mais que mil sonatas. Essa sujidade contrasta com a limpeza mental, de pensar pouco sobre estar preso.

Liberdade e' ter o telemovel desligado, nao ter televisao nem internet, nao ter horas no pulso nem no bolso nem no horario nem ninguem que nos diga que temos de estar a xis hora no local ipselon,e o engracado e' que estas completamente rodeado sem espaco nenhum para largar um gas ou um pequeno e educado arroto e mesmo assim estares feliz por nao teres de dar nenhuma e qualquer justificacao a' comunidade que te acompanha diariamente, desde o amanhecer ao por-do-sol.

Vou sentir falta deste Big Brother sem camaras e sem confessionario, partilhado com mais catorze, seis motas e varios bichos de estimacao.

2 comentários:

  1. tenho a dizer que este teu post foi algo impressionante! é por isso que nao gosto de andar em nada que seja mais rapido que eu a pé e nao seja eu a controla-la!!

    abraço!!

    ResponderExcluir
  2. já perco horas de sono para te ler e já não consigo terminar um post sem elogiar a tua capacidade de escrita. sem dúvida que dá gosto vir aqui!

    ResponderExcluir