domingo, 4 de abril de 2010

PALITANA-ALANG



Quatro e meia da manha, acordo depois de mal ter dormido um par de horas, para uma viagem de cinco horas ate' ALANG, com passagem por PALITANA.

Sabia que ia ver navios a serem desmontados no maior porto do mundo de reciclagem nautica mas nao sabia que iria visitar um dos maiores templos hindus da india, nem que para o fazer teria de escalar ate' ao topo da montanha, qual Moises, com 43 graus, sol a pique, 12:00, com um litro de agua quente e sem proteccao para a moleirinha. Tres mil degraus.

Pensei que fossem trezentos, e ao final desses trezentos, que ate os fiz a correr e a saltar, como quem nao quer a coisa, ultrapassei o topo da primeira montanha e desenganei-me.. Ai vi que o caminho era longo e pesaroso, que ia ser uma estafa para conseguir chegar ao "paraiso", e o autocarro partia em hora e meia. O pai ja vai...

Depois de mais de meia hora a contar degraus, a parar na sombra, a puxar pela vontade de ver o que pensava que era o templo, mesmo colocado ao meu lado direito, no cume da montanha, la' cheguei.

Cheguei e voltei a tirar o cavalinho da chuva, ou do sol neste caso, afinal havia outra. Ainda me faltavam mais setecentos degraus, o que depois de dois mil e quinhentos, com esta temperatura, sem agua e sem sombra, e' mesmo querer passar uma certidao de obito ou no minimo uma bela ensolacao. Pensei que tinha comprado o bilhete para ir ver os barcos e que, no minimo tinha de la chegar com cabeca para apreciar a sucatada toda, nao sou de ca' so' vim ver a bola... Arrependi-me de nao ter perguntado o roteiro, de me ter posto apronto Along for the ride, e uma t-shirt limpa teria feito imenso jeito. O cheiro a poney rodeava-me a mim, e aos outros, em cerca de metro e meio de diametro e que juntando os diametros todos, transformou o minusculo autocarro numa selvajaria.

Mas voltando ao templo. O certo e' que tinha meia hora para voltar a descer, nao tinha pernas nem mais vontade de chegar ate ao Paraiso, o preco parecia demasiado alto e nao fui fisica e mentalmente preparado para tal acto de coragem... se calhar hoje arrependo-me e ontem tinha feito mais um 2step para la chegar ao cimo...

O jelmer, meu colega de quarto e de aventuras, voltou de la de cima a correr, mas o gajo tambem ja foi ciclista pode bem com elas, vermelho que nem pimento, chilli style, arrumado a pensar que vinha atrasado para a camionete. Pelo relato, chegou ao cume e a vista era lindissima, pena estar completamente esgotado e quase a tombar que nem penedo pelos penedos abaixo.



A descida foi complicada.



O que parece facil normalmente e' mais dificil que o complicado e fazer o mesmo caminho outra vez sempre com o travao de mao e segunda engatada nao foi melhor que contar escadas para o paraiso.

Seguimos viagem para ALANG, prato principal a cheirar a mar mas sem gambas nem derivados, so gasolina, cheiro a queimado, favelas e esgotos a ce'u aberto, mais de duzentos barcos atracados a' costa negra, poluida, corrompida pela ambicao do homem.

ALANG e' dos principais focos de poluicao maritima, de materiais no catalogo BIOHAZARD e onde a cada dia que passa um trabalhador morre. Funciona como uma strip ao longo da costa onde vao atracando as embarcacoes, desde porta-avioes a cruzeiros que outrora foram de luxo, porta-contentores ou petroleiros, e ai num espaco de tres meses sao completamente desmantelados, nome tecnico, shipbreaking, nome politicamente correcto, ship recicling.

Proibidas eram as fotografias, so para se ver o grau de reciclagem e ecologia que por la anda, com os trabalhadores a morrerem com cancaros e eteceteras e a viverem numa favela paralela ao shipbreaking, como uma linha de duas faces.

Os barcos iam-se "amontoando" e formando fila ao longo da costa, uns a espera de vez aguardavam ao longe na linha do horizonte.
Era impressionante ver em corte os navios, ora desmantelados na sua totalidade ou entao parcialmente na lateral ou como o cliente assim o requeria ou o patrao desejava.

Depois de fazermos a tour dentro do autocarro com o seguranca a nao deixar usar a maquina fotografica, seguimos viagem para a extensa rua que liga Alang ao resto da india, rua que parece a feira de custoias, cheia de casinhas e casonas, tascos e supermercados de produtos maritimos, desde a chapa ate aos binocolos, canecas de todos os feitios, bandeiras, lanternas, redes ou botes salva-vidas. Tudo se re vendia, se reutilizava , se tornava novamente util a's maos dos mais habilidosos.

Mais uma vez, a India como lixeira inter continental, como porto de abrigo aos desabrigados, nos trabalhos sujos que mais nenhuma nacao quer ver na sua area maritima, na sua costa "limpa".

Alang e' um ponto negro no globo, tao negro que para la ir precisamos de licenca e passaporte, nao se pode parar la' , entrevistar ou fotografar.

Quem la trabalha resiste a tudo, aguenta toda a porcaria que se faz pelo mar adentro e nao sao alergicos a nada tirando a Greenpeace.

gostei de comprar um pedacinho de barro com texto portugues, para tremocos e azeitonas, para usar no Portugal quando voltar. E da bandeira Portuguesa com as quinas e as torres em condicoes, sem piramides como as bandeiras portuguesas vendidas nas lojas chinesas.

inicialmente escrito em inicios de abril. ficou no arquivo ate agora.

Um comentário:

  1. se a imagem já arrepia, então com o que escreveste fiquei ainda mais arrepiada :/

    que cenário...

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