terça-feira, 24 de maio de 2011

A FESTA DA TAÇA

Sete da manhã.
A água desperta, o cheiro a bife na frigideira alerta para o dia longo que se adivinha. O épico dia.
Bongos, sandes, chamuças, laranjas e cervejas. Farnel pronto, camisa vestida, boné no saco.
O meu primo que também é doente da bola, as sete e quarenta e cinco em ponto, aponta à porta de casa.
Enche-se a mala, segue-se viagem até casa do Tio Clemente e aí vejo que a casa gasta o mesmo, alias, a dona de casa, a Graçinha, mete iogurtes, resmas de fiambre e queijo, sumos, mais cerveja, panados, rissóis, bolinhos de bacalhau, e tudo o resto que desse para ocupar o espaço já lotado do pequeno saco térmico.

O resto dos camaradas aparecem depois, volta-se a encher a mala, estende-se a manta no banco de trás, dancemania 2011 no rádio e A4 em direcção ao sul. 

Afinal de contas, era a Festa da Taça, no velho Jamor. First things first, porque dias de clássico não são dias comuns.
A caravana lá seguiu, as conversas do costume, ainda a ganhar espaço para meter a palavra no meio das dos outros. 

Chegados ao destino, a fila era grande, a azafama ia-se pronunciando ao longo do parque esverdeado que se vislumbrava à nossa frente. Fizemos TT com o Polo do seguro, estacionamos de ladex, estendemos a toalha e começamos a abrir tupperwares e a massajar a barriga. Ia ser um longo dia.
Panado na boca de boca aberta para falar, cerveja fresca na outra mão, sol a pique, cadeira emprestada enquanto os vizinhos iam procurar o familiar que andava perdido no meio do vasto parque de merendas improvisado. Aqui e ali grelhavam-se feveras, frango, costelinhas, pimentos, salsichas entre outros enchidos. Lembrava a senhora da Saúde de Bustelo, a sombrinha e a famelga reúnida enquanto a cambada era toda nova. Good old times.

E era disto que o Povo gostava, da borga, do escape, dos berros e das bolas perdidas no ar, dos prognósticos antes do jogo, da cartada lançada nas muitas mantas coloridas. Foi este o Portugal que copada atrás de copada, comecei a analisar. Infelizmente, não sei se a modo de depressão, começou a fazer todo o sentido.
A malta ia mijando onde podia, à frente de qualquer pessoa, as bolas batiam nos carros, alguns faziam peito bravo às balas, outros berravam palavroes e cheirava a erva. As barrigas estendiam-se no chão, comiam-se mais e mais panados.
O sobe e desce foi descendo e subindo, a confusão começou a apertar, demasiado, era tudo demasiado, agreste. Comeram-se as últimas buchas, acabaram-se as superbock, fechou-se a mala, boné na moleirinha e começou-se a escalada montanha a cima, O monte tava cheio, tudo ao monte e sem fé em deus, gargantas ao alto e cerveja apontada ao céu, garrafões a voarem e gangues nas eiras, tudo a rolar como pedras rolantes, embatendo em árvores e rasgando arbustos. Chegamos finalmente à entrada Maratona, ironicamente em corta-mato, de estomago cheio e já de pés levantados. O primo do outro lá apareceu, abraços para toda a gente e um "vamos ganhar caralho!". Deu ainda tempo para abastecer novamente nos quiosques, tirar bilhete e entrar.

A imagem era deslumbrante, branco do lado direito, azul à esquerda, avalanches de gentes a subir e descer o velho Jamor. Uma estranha mistura entre a arquitectura do Estado Novo e as enormes estruturas de iluminação a meu ver modernistas, destacadas e separadas de tudo, a surgirem da densa vegetação.
Mas à semelhança de tudo o resto, eramos só um povo borrachão e desorganizado, feliz pela festa e pela parra, num Estádio decadente e limitado, numa Taça à Portuguesa presidida pela sua Excelência e por todos os outros. Era isto, alias, sempre foi e sempre será. Limitado e desgastado, decadente.

Ao quinto Golo acordamos, estava ainda a flutuar, com o sol e a cerveja, a destilar sobre o sol impiedoso, eu e os outros cinco, aí berrou-se e saltou-se, galgaram-se bancos e pessoas, mosh geral, berreiro e amor eterno pelo azul e branco...





Subimos tudo novamente, para tudo voltar a descer durante quinze minutos intermináveis em lata de sardinha a cheirar a cavalo. Mandamos mais umas buchas e tentou-e acabar o farnel, fomos seis durante um quilometro para levar o primo do condutor ao seu automóvel, passamos por quatro mais um com duas cabeças e o policia achou estranho não levarmos ovo azul de cadeira de rodas na traseira do carro, mas dia de taça é dia de taça. Afinal de contas, era mesmo a Festa da Taça.

Novamente fica o sentimento deste Portugal por se concretizar, sedento de bola fado e vinho tinto, tacanho e atropelado, esquecido e fugaz. A única coisa que não o é, é a mentalidade.

terça-feira, 17 de maio de 2011

EYES LIKE KNIVES!



                                      

                                      

hexes