terça-feira, 8 de maio de 2012

THE OTHER SIDE OF MADNESS pt.1



Abstraído, tão distraído que acabei por queimar a ponta dos dedos indicador e insurrecto com a beata que tinha entre nacos.
O pequeno e confinado espaço exterior reservado aos mecanismos de ventilação do "Faraó" pertencia a uma realidade paralela e flutuante, sobre dezenas de metros de distância da perfeita e mundana vida cosmopolita que se instalou na capital. E a flutuar, pairava sobre a ilusão do mundo ocidental, a crença cega nos deslumbres civilizacionais de neóns e Leds e tecnologia de ponta dos comuns mortais. Por entre a rede de galinheiro vislumbrava todo este frenezim, pontuado pelo ligar e desligar das máquinas, tal qual o ir e vir de um pistão de motor, oleado,maquinal, infernal. E esta visão prolongava-se por mais uma meia dúzia de quarteirões, até ao fumo dos escapes me fazer escapar a nitidez da vista, por entre volumetrias desproporcionais egrotescas transformadas pela apatia dos gases e das gentes, e eu, ali parado, no tempo no espaço visceral, sem me mexer. Nem a mais hábil façanha de Houdini roçou tal nível de fantasia. A minha vida apenas passa por aumentar o volume de som do canal desportivo ao mesmo tempo que me embrenho a empurrar no balcão martinis on the rocks, entre jacks e daniels, entre galdérias e artistas da bola. E por hoje era tudo, e já não era pouco. Troquei de camisa, a suja branca deu lugar a um branco sujo, de lavagens e lavagens de água sem sabonete, estava a chegar a hora de largar o ambiente soturno e saturado de horas e horas de tabaco expirado para um ar que já lá morava desde que me lembrava, a ventilação é só para fazer de conta, os filtros estão fodidos e o ar lá de fora melhor não é.Apanhei o autocarro de sempre, o das altas horas da noite, aquele que parava em menos paragens só porque sim.Gosto de atitudes extremas.Sim ou não. Os intermédios aborrecem-me. É sinonimo de tomates mingados.Nem muito grande nem muito coiso, assim assim.


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