sexta-feira, 10 de agosto de 2012

EM CANELAS HÁ UM TANQUE

E para lá chegar é preciso guiar como quem guia o mesmo tempo de quem vai para o Porto, pelas curvas do território, sempre a subir, passando as termas, virando na torre, ao passar da curva do penedo, com um farol avariado e outro a funcionar, vamos correndo o asfalto como se de dia de tratasse, não fossem já estes vinte e quatro anos pautados por viagens idênticas, muito mais que só no Natal e na Pascoa, sempre sempre que há vontade de cheirar o eucalipto e tomar um sumol no café central.

Depois de estacionado, deixam-se as tralhas pela casa, distribuem-se beijos e abraços de meia noite, o guardião do espaço escuro chegara, e com ele veio também a vontade de despertar. No café central, há sempre mais um café para ser tirado, nem que o chão esteja já todo limpo e as cadeiras todas arrumadas e a maquina de tabaco desligada e os neóns apagados.
Num desses dias encontrei o Tiago, e foi bom conversar sobre os verões de Canelas, dos jogos da bola no pelado do Canelas Futebol Clube, das idas à fruta, das corridas pelos montes abaixo, pelas jogatanas de mastersystem e pelos banhos no tanque. Foi porreiro lembrar o acidente, talvez noventa e quatro, noventa e cinco, em contra mão, estrada fora em direcção à chapa branca do Ford Escort que não vimos a desfazer a curva na mão dele.

E nestas noites de retiro, liga-se a televisão digital terrestre, deixando os documentários da dois soar pela sala a cheirar a fumo da lareira apagada, e de computador ligado, aprecia-se o silêncio lá de fora, quebrado de quando em vez pelos carros e motas lá da terra.


É reconfortante saber que podemos sempre entrar no portal do tempo e ir até Canelas, comer um arroz malandro e ficar com os dentes entranhados de fios de frango estufado.


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